terça-feira, 21 de agosto de 2012

O Creme Assado de dona Filomena

Creme Assado

Texto: Wagner Sturion

Filomena tinha o costume de agradar o marido com um Creme assado, tipo Caçarola Italiana. Adamastor se sentia lisonjeado a cada nova edição do doce, que lhe abria o apetite para um jantar preparado com muita dedicação e carinho. Sim, ele amava comer a sobremesa antes da refeição. Assim como amava passar pela casa de uma de suas amantes, todos os dias, antes de retornar do trabalho. Aos amigos, dizia que Filomena era a número um em seu coração. Amava-a, profundamente, entretanto sentia uma necessidade também intensa de conhecer novas mulheres. 

A esposa não conhecia outro homem, casou-se virgem, e nem pensava que o marido pudesse cometer uma traição. Até que uma das mulheres, apaixonada por Adamastor, plantou um bilhete de amor em seu bolso. Naquele dia, ao chegar em casa, o creme sobre a mesa estava queimado, praticamente torrado. A casa toda esfumaçada. Por trás da grande cortina de fumaça, duas malas e um casaco, que Filomena costumava usar em festas. Debaixo da sobremesa, o bilhete da amante exposto para que ele visse. Em cima, apenas uma frase da esposa. “Eu poderia deixar a receita para que a outra lhe fizesse o creme, mas seria em vão: a ternura e o gosto pela cozinha não seriam os mesmos”. Filomena apenas fixou os seus olhos nos do marido e disse: “Seja feliz, porque eu também serei!” 

Nunca mais Adamastor degustou um Creme Assado como o de Filomena.  Algumas pessoas vivem procurando sabores diferentes, quando o melhor aroma da vida está sob o teto de suas casas. Depois que perdem a receita especial, passam a procurar cópias que possam relembrar sentimentos antigos, entretanto cada relação traz um Modo de Preparo, um Ingrediente, um Tempero e um “toque” bem diferente...